Coluna Deus e a Ciência de Julho:
Nem Deuses, Nem Astronautas,
Apenas Homens
Manifestações Religiosas no Espaço
Naelton Mendes de Araujo - sexta-feira, 3 de julho de 2009
Há umas semanas estou pesquisando para uma palestra que ministrarei na Fundação Planetário sobre os 40 Anos da Corrida a Lua (estão todos convidados – 08/07/09 as 20 h). Deparei-me varias vezes com histórias pitorescas sobre astronautas. Nem todas são confiáveis, pois aquela era um época de guerra fria onde a propaganda política permeava todos os assuntos, sobretudo a astronáutica.
O primeiro homem a ir para o espaço foi Yuri Gagarin no Vostok 1 em 1961. Como símbolo máximo da supremacia espacial dos soviéticos suas declarações tinham um peso que não podia ser desprezada pela propaganda ideológica socialista. Todos já devem ter ouvido da frase: "A Terra é Azul". Você pode, hoje em dia, ler uma transcrição completa do que o famoso cosmonauta disse durante o seu vôo de 108 minutos. Não encontrará esta frase. Pura propaganda.
Outra frase fictícia atribuída a Gagarin: "Eu estive no céu e não vi Deus lá em cima". Em 2006, o Coronel Valetim Petrov, amigo intimo de Gagarin, disse que ele nunca proferiu esta frase. A origem parece ser uma frase de Nikita Khrushchev, antigo presidente da URSS, num discurso anti-religioso. Petrov disse que Gagarin foi batizado numa igreja cristã ortodoxa.
As viagens espaciais tem um quê de semi-divino, épico e grandioso para imaginação humana. Relacionar o espaço com Deus parece ser algo natural para a maior parte das pessoas. Criamos uma aura heróica ao redor da imagem dos astronautas. A propaganda se vale deste glamour intelectual para reafirmar ou negar idéias.
A Apolo 8 foi a primeira nave tripulada a dar a volta a Lua. Ela a primeira vez que uma missão tripulada americana realmente tomava a dianteira na corrida espacial. Na noite do dia 24 de dezembro de 1968 a tripulação mandou uma mensagem de Natal muito especial para o mundo que assistia atentamente. Os astronautas Frank Borman, James Lovell e William Anders começara a recitar:
"No princípio criou Deus os céus e a terra.
A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo,
mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.
Disse Deus: haja luz. E houve luz..."
Eles leram os 10 primeiros versos do capítulo 1 de Gênesis. Imagino o impacto destas palavras milenares naqueles três homens. Como seria olhar o globo azul da Terra flutuando no espaço negro e vazio? Imagine essa visão a partir da escotilha de uma apertada cápsula espacial. Isso causou aborrecimento mais tarde quando ativistas ateus moveram um processo judicial contra a NASA. Eles queriam que não se permitisse que astronautas expressassem manifestações religiosas no espaço.
Na missão Apollo 11 (Julho de 1969), Buzz Aldrin, um presbiteriano convicto, levou pão e vinho em um estojo e tomou a ceia na Lua. Na época ele fez isso em segredo por conta do litígio jurídico que a NASA enfrentava. Hoje a igreja de Buzz, a Webster Presbyterian Church comemora anualmente a chamada Santa Ceia Lunar no domingo mais próximo do 20 de julho.
São casos curiosos onde declarações ou atitudes de fé tomaram proporções políticas e ideológicas. Quando a manifestação de fé de um individuo é tão importante? É fácil responder: Sempre! Você não precisa ser astronauta para fazer a diferença ao declarar sua fé publicamente. Sua fé faz parte de você. A liberdade religiosa passa pela livre manifestação das suas crenças. É um direito humano: de astronautas e de meros mortais como todos nós. Se você crê demostre que crê!
Sugestão de tema para o próximo artigo: Qual a idade de Terra? Por que esta pergunta gera tanta polêmica entre criacionistas e ateístas?
Referências:
Áudio da Apollo 8 leitura do Genesis na véspera de Natal de 1968 (115 segundos): http://www.hq.nasa.gov/office/pao/History/40thann/wav/ap8_xmas_eve.wav
Para saber mais:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Buzz_Aldrin
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