ROBÔS X SERES HUMANOS NO ESPAÇO


Em dezembro de 2012 tive a oportunidade de assistir uma palestra muito boa do curador do Museu Nacional Aeroespacial de Washington (http://airandspace.si.edu/), Roger Launius no Museu de Astronomia. O Museu Aeroespacial faz parte do Instituto Smithsonian, um complexo de museus de história e ciências. Esta instituição serviu de cenário do filme “Uma Noite no Museu 2”. Não preciso dizer como sonho em visitar um lugar como este.

O tema da palestra era “Robôs x Seres Humanos no Espaço”. O prof. Roger discutiu conosco uma velha polêmica da pesquisa espacial: Qual é a melhor maneira de explorar o espaço: sondas automáticas ou astronautas?

Se formos levar em conta a relação custo-benefício fica claro que uma missão tripulada é várias vezes mais cara e complexa que uma missão automática. Não sei dizer quantas vezes mas chutar quatro vezes mais cara seria otimista.

Uma missão tripulada exige naves maiores e mais caras. É preciso dispor de atmosfera com pressão controlada,  água potável, controle térmico rigoroso e espaço para a tripulação se alojar. A partir dos anos 90 a NASA adotou um política denominada “Faster, Better, Cheaper” (mais rápido, melhor e mais barato).  As sondas automáticas, que podem ser entendidas como robôs, atendem totalmente estes ideais. Sondas não precisam comer, dormir ou beber. As naves que as transportam são muito mais simples, menores e mais baratas.
Contra os robôs atuais temos apenas o fato da limitada autonomia. Estas maquinas não são capazes de tomar decisões e não podem enfrentar imprevistos em tempo real. Existem hoje na superfície de Marte três gerações de veículos automáticos chamados rovers. O primeiro a pousar lá foi o Sojouner do tamanho de um pequeno micro-ondas. Depois pousaram dois gêmeos muito maiores e mais complexos: Spirit e Oportunity. Hoje está em plena atividade o Curiosity do tamanho de um automóvel. Mas por mais complexos que sejam estes autômatos não decidem por onde andar. Existem pilotos guiando estes mecanismos via joysticks. Além disso, um sinal de radio viajando entre Marte e a Terra pode demorar de 3 a 21 minutos dependendo da distância. Entre um inicio de uma operação e outra é necessário levar este intervalo de tempo em conta. Se algo exigir um tempo de reação menor o rover não tem como “decidir” o que fazer, ele depende do comandos de Terra.

Por outro lado, o corpo humano submetido a ambientes extraterrestres, por tempo prolongado, sofre efeitos irreversíveis e possivelmente danosos. A Lua será provavelmente o próximo passo de uma futura exploração humana do Sistema Solar. Como a gravidade lunar é cerca de um sexto da terrestre os ossos e músculos dos futuros astronautas podem enfraquecer de forma irrecuperável em estadias mais demoradas na Lua.

Qual seria a solução ideal? Robôs inteligentes? Humanos com órgãos cibernéticos?

A abordagem do prof. Launius foi muito completa e empolgante. Resumiu estas questões acima mencionadas e sugeriu resposta. Ou fazemos robôs mais inteligentes e autônomos ou adicionamos partes robóticas em nossos corpos. Imagine um corpo artificial que permita a um astronauta ciborgue enfrentar qualquer campo gravitacional, radiação, variação de temperatura e etc. Tais avanços permitiriam o ser humano explorar até mesmo estrelas distantes.

Por outro lado ambas soluções esbarram em problemas éticos. O palestrante exemplificou a aversão que as pessoas sentem de maquinas pensantes e ciborgs usando imagens do cinema como a Rainha Borg da série Star Trek New Generations ou o robô T1000 do filme Exterminador do Futuro. As discussões éticas estes tema é muito séria e ainda estamos engatinhando em direção a uma compreensão melhor destes assuntos.
Apesar da imagem futurista traçada pelo palestrante tenho que trazer os leitores a atual realidade, infelizmente. Nos próximos anos os astronautas tem pouco a acrescentar à exploração espacial do Sistema Solar. Naves robóticas mais sofisticadas irão cada vez mais longe descobrindo mais coisas. Uma missão tripulada a Marte provavelmente não traria mais informação do que a frota de naves automáticas que pousaria lá antes dela. Os astronautas chegariam num planeta já desvendado por robôs.

O glamour de uma viagem tripulada é um preço muito alto a pagar. Os dividendos de uma viagem com astronautas é ainda muito mais político do que científico.

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